Morei em Vigo (Espanha) na década de 1970 e um dos episódios mais nebulosos dessa época foi a morte por suicídio de um dos amigos dos meus pais, que residia em uma região rural da província (estado) de Pontevedra. Ninguém falava abertamente com as crianças sobre o ocorrido, apesar de perceber a tristeza, de ouvir as conversas entrecortadas pelo choro, das roupas pretas das pessoas. Quando perguntava aos meus pais, mandavam-me calar. Após algum tempo, só sobraram as lembranças de um homem triste e calado, e as roupas pretas de seus familiares, que se somaram às das outras pessoas que conhecera. São estas lembranças e sentimentos já esmaecidos que surgem quando ouço ou falo sobre o suicídio.
Em 2002, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que o dia 10 de setembro seria reconhecido como o “Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio”. No ano passado (2014), foi publicado o relatório “Prevenção do suicídio, um imperativo global” em um esforço mundial para reduzir em 10% a taxa de suicídio nos países até o ano de 2020.
Estima-se que mais de 800 mil pessoas suicidam-se anualmente ao redor do mundo e que seja a segunda causa de morte de pessoas entre 15 e 29 anos. Calcula-se que para cada pessoa que conseguiu suicidar-se, outras 20 tentaram-no. Ainda assim, os suicídios podem ser prevenidos.
Coincidentemente, nesse mesmo ano foi publicado um estudo brasileiro sobre o suicídio e os principais resultados foram:
1- Em números absolutos, o Brasil encontra-se entre os dez países que mais registram casos de suicídios, mas em números relativos o número é baixo (coeficiente de mortalidade por suicídio: número de suicídios para cada 100 mil habitantes: o coeficiente médio do período entre 2004-2011 foi de 5,7%).
2- Ainda assim, esse coeficiente médio aumentou 29,5% nas últimas duas décadas, sendo mais elevado entre homens, idosos, indígenas e em cidades de pequeno e de médio porte populacional, como a maioria dos municípios da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte.
3- Os transtornos mentais encontram-se presentes na maioria dos casos de suicídio, principalmente depressão, transtorno bipolar do humor e dependência ao álcool (Botega, 2014).
As causas do suicídio podem ser variadas, já que “o comportamento suicida é um fenômeno complexo e é afetado por vários fatores inter-relacionados: pessoais, sociais, psicológicos, culturais biológicos e ambientais” (OMS, 2014).
O suicídio é uma tragédia pessoal que as famílias e os amigos carregam para sempre. Por isso, é importante que as pessoas possam encontrar apoio e ajuda de seus familiares, profissionais capacitados e de instituições como o Centro de Valorização da Vida (www.cvv.org.br).
Fontes:
1- Botega NJ, 2014.
2- OMS, 2014. |